segunda-feira, 30 de maio de 2011

Não leio Caio, ele é que me lê.

“Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa.
Acredito que essa moça, no fundo gosta dessas coisas. De se apaixonar, de se jogar num rio onde ela não sabe se consegue nadar. Ela não desiste e leva bóias. E se ela se afogar, se recupera.
Estranho e que ela já apanhou demais da vida. Essa moça tem relacionamentos estranhos, acho que ela está condicionada a ser uma pessoa substituta. E quem não é?
A gente sempre acha que é especial na vida de alguém, mas o que te garante que você não está somente servindo pra tapar buracos, servindo de curativo pras feridas antigas?
A moça…ela muito amou, ama, amará, e muito se machuca também. Porque amar também é isso, não? Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando. Daí você espera por alguém que venha te curar.
Às vezes esse alguém aparece, outras vezes, não. E pra ela? Por quem ela espera?
E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará.
A moça – que não era Capitu, mas também têm olhos de ressaca – levanta e segue em frente.
Não por ser forte, e sim pelo contrário… Por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo."

Caio Fernando Abreu

terça-feira, 24 de maio de 2011

Sinuca e Machismo.

Eu e minha amiga chegamos ao bar Rosa Mistica, colocamos uma ficha na mesa de sinuca e começamos a conversar. Conversávamos sobre projetos artísticos, sistema carcerários, feminismos, gênero, cultura popular e mais algumas coisas que surgiam em nossa chuva de idéias. Conversávamos empolgadas, uma empolgação visível, também falávamos enfaticamente. Nesse meio tempo um engraçadinho resolveu fazer um comentário do tipo: "Calma, sem violência" !!?? Como assim violência? Ah, claro, mulheres cheias de idéias que falam enfaticamente só podem ser violentas. Também outro ser com uma simpatia exacerbada resolveu perguntar se queriamos que ele nos pagasse um cerveja. ??!! Não tinhamos a menor intimidade para que ele nos perguntasse isso, mas, ao que parece, toda mulher que se encosta em um balcão só pode estar esperando que um homem qualquer pague algo pra ela. Como se não pudéssemos pagar algo para nós mesmas. Bom, chega nossa hora de jogar e os homens em volta daquela mesa começam a dar risadinhas. Eu jogo, e erro. Pela regra da sinuca, quando alguém erra uma bola, a bola do adversário cai. Na hora eles disseram que a bola não deveria cair. !!?? Pera ai! Por que somos mulheres precisamos de facilidades? Ser mulher é algum tipo de doença que nos torna débeis até para jogar um jogo besta como a sinuca? O jogo seguiu esse clima até o fim e era óbvio que perderíamos. Então, eles resolveram fazer piedade e inventar de derrubar duas bolas nossas, que não deveriam cair. Ganhamos, aparentemente.
Que fique bem claro. Ganhar não nos tornaria mais ou menos mulheres! Pelo contrário, se eles perdessem para duas mulheres sem darem facilidades, com certeza sentiriam sua masculinidade abalada.
Esse foi apenas mais um caso de machismo que eu e minha amiga sofremos Eu e minhas amigas passamos por muitos. As mulheres vivem o machismo constantemente.
Acordemos amigas! Não somos mais evoluidas como alegou o reitor da nossa universidade, mais somos iguais, apesar dos estigmas patriarcais que nos cercam!
Lugar de Mulher é em todo lugar! Na presidência e também na mesa de sinuca. =)

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Filosofia Tripartida sobre as maneiras de ler a vida.

Há que diga que basicamente são duas as formas de se ver a vida: uma é pessimista , a outra é otimista.
O pessimista enxerga sempre o pior de tudo, então para um pessimista, cada mínimo detalhe é uma catástrofe. Um recado estranho em um mural de facebook significa traição, o aquecimento global é o fim do mundo, ideologias não existem e o mundo todo conspira contra ele.
O otimista utópico por sua vez vê tão somente o bem, em tudo, sem filtros. O recado estranho no mural do facebook do amado é apenas de uma amiga dengosa de mais nas palavras, o aquecimento global é história de cientista para dar audiência para a Discovery, todos os seres humanos realmente possuem ideais e lutam tão somente por eles e o mundo é multicolorido, cheio de amigos e pessoas que querem tão somente o bem.
Essa é a teoria dualista. Porém, podemos destacar mais um forma de se ler a vida, essa é mais aceitas por aquelas pessoas classificadas como felizes.
Essa forma é o do otimista realista. Com ela, fechamos a filosofia tripartida.
O otimista realista é aquele que não enxerga tão somente o bem, mais sabe que para que tudo termine BEM a unica coisa necessária são suas atitudes e escolhas, afinal, nada é por essência e sim por um conjunto de escolhas e fatores externos. Para ele, o recado estranho é apenas um recado sem importância pois o que importa é a forma como ele tratará o amado e fará com que ele fique cada vez mais apaixonado, afinal, tudo está muito perfeito e diante disso os outros são os outros. O momento oportuno de esclarecer as coisas chegará. O aquecimento global é uma triste realidade decorrente de anos de descaso com o meio ambiente e de uma nova sociedade de consumo, a partir disso acredita-se que mudando a forma de consumo, produção e apostando nas energias renováveis o planeta terá salvação. As ideologias existem, no coração de poucos mais existem. O que falta é cultivo, incentivo, pessoas dispostas a fazer os ideais renascerem. Para esse tipo de otimista, o mundo é um conjunto de fatores bons e ruins e como as coisas de desencadearão dependerá somente dele. Tudo ficará bem, basta saber viver. Escolher bem o que será motivo de estresse e o que não será, preocupar-se com as próprias atitudes. Afinal, só quem pode colocar algo a perder em nossas vidas somos nós mesmos. E o medo de ser enganado, iludido, tem que se transformar em coragem. Coragem de ser feliz! Afinal, como dizia Nietzsche, a felicidade é carregada de uma grande dose de ilusão.


Esse texto não possui nenhum embasamento teórico além de uma mente pouco criativa, um pouco de samba, um pacote de bala mentos e alguns acontecimentos vividos.

domingo, 22 de maio de 2011

Receita de um Domingo Perfeito.

Ingredientes:

1 boa companhia
1 cama
1 chuveiro quente
1 bom filme
1 CD dos Beatles
1 Caixa de bombons

Uma pitada de chuva
Uma pitada de bom humor
Uma grande dose de carinho
Uma grande quantidade de risos
Beijos à vontade
Um pouco de poesia.

Como fazer:

Simplesmente perceba todos os ingredientes que tem em mãos. Sinta-os, observe-os e use e abuse. Agradeça por eles, pois agradecimento é uma das maiores fatias do bolo da felicidade. Role na cama, tome um banho quente, faça um almoço delicioso, escute Beatles e cante embaixo do chuveiro. Mais, não faça isso sozinho. Faço tudo isso ao lado daquela pessoa especial, encha ela de carinho, de beijos, faça ela rir, assista aquele filme meio filosófico que só você gosta e ria por dentro por saber que aquela pessoa só esta li vendo aquele filme para estar do seu lado, e agradeça muito por isso. Não à pessoa, mais à Deus. Pois é ele que coloca pessoas assim em nossas vidas. E no fim do Domingo, a hora da pessoa ir embora e a casa ficar vazia e a cama espaçosa, não se desespere, afinal, amanhã é outro dia, e logo logo aquela pessoa estará ali, de novo. Afinal, você soube aproveitar todos os ingredientes, e muito bem.
Agora, deite na sua cama, ouça uma música, junte um bocado de poesia com a saudade que você já está sentindo e compartilhe sua receita com os outros. Afinal, felicidade não é para ser guardada em caixinhas no armário, ela é feita para ser gritada.

É o que estou fazendo agora.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Desabafo...

Ultimamente não escrevo nada relacionado à politica. Não que não a viva mais, muito pelo contrário, a respiro em demasia. São dias ou no DCE ou no gabinete. São reuniões intermináveis e que muitas vezes se acabam em si mesmas. São longos debates que exigem de mim a emissão de opiniões. Quando sento aqui, só quero falar de mim, afinal, existo. Existo para além do movimento estudantil e das tramóias de nossa prefeitura, para além dos debates parlamentares que acompanho diariamente. Existo em mim mesma, em minhas fragilidades, em minha paixão por um certo paulista lindo, em minha familia e nas amizades, algumas que não vivo à meses. Não estou reclamando, e talvez pareça narcisismo, afinal de contas quem lê isso pode se perguntar: "quem disse que quer ler alguma opinião política tua?" Mais, é que a política faz parte do que no momento é minha essência e não falar dela me soa estranho. De fato, como poderia dizer Ferreira Gullart, sou metade política e metade eu mesma. É essa segunda metade que preciso gritar para o mundo agora.

Eles que eram. Nós que somos, assim, sem definições.

"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."


Retirado da obra de Clarice Lispector.
Título da postagem de autoria própria.
Algo tinha que ser.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Não desistir antes de começar.

Dessa vez não vou evitar dizer o que está na minha cabeça só porque eu sei que minha mente leonina não gosta de expor fragilidade, não fugirei de palavras bonitas porque quem diz não é uma pessoa perfeita, não arrumarei mil defeitos pra brigar contra as novecentas e noventa e nove qualidades, não desviarei meus olhos por medo de ter minha mente lida, não sumirei por medo de desaparecer, não vou ferir por medo de machucar, não serei chata por medo de você me achar legal, não vou desistir antes de começar, não vou evitar minha excentricidade, não vou me anular por sentir demais e logo depois não sentir nada, não vou me esconder em personagens, não vou contar minha vida inteira em busca de ter realmente uma vida.Dessa vez não vou querer tudo de uma vez, porque sempre acabo ficando sem nada no final.Estou apostando minhas fichas em você e saiba que eu não sou de fazer isso. Mas estou neste momento frágil que não quer acabar. Fiquei menos cafajeste, menos racional, menos eu. E estou aproveitando pra tentar levar algo adiante. Relacionamentos que não saem da primeira página já me esgotaram, decorei o prólogo e estou pronta pro primeiro capítulo.

Adaptado.
Caio F. Abreu.